Olá,
meu nome é Senador Sá, que nome estranho né?! Pois é. Me deram, não pude
escolher, mas já tive outro, não muito bonito, porém mais simbólico. Nasci em
1878 nas planilhas do engenheiro José Privat, eu não era nada, era apenas um
capão de mato no meio do caminho mais curto entre dois pontos. Os pontos eram a
Vila Serra Verde e o Riachão das Traíras e a reta era a linha férrea do ramal
Sobral / Camocim e eu estava no meio. Que sorte né?!
Pois
é, foi sorte mesmo! Olha a coincidência, aqui próximo a onde hoje fica o prédio
da estação, tínhamos um capão só do puro pitombeira, me acredita?! Era muito
pitombeira mesmo, era cada pezão de pitomba de macaco, lembro como se fosse
hoje. E foi exatamente neste ponto que os trabalhadores do ramal fizeram uma
oficina de bater ferro e também foi aqui que vários trabalhadores passaram a
noite, aqui era bom, tanto pela sombra como pela proximidade com o olho d’água
dos picos, que tinha água doce o ano todo.
Pitomba, também chamada de Olho de Boi e Pitomba de Macaco |
Minha
história é longa viu! Fui filho sem pai por um bom tempo, o primeiro a me
adotar foi Granja, que cuidou de mim vários anos, mas, nunca quis me registrar,
na boca do povo eu era filho de Sant’ana, todavia, esta nunca se manifestou,
acho que eu era filho mesmo era do vento rsrsrsrs. A verdade mesmo é que fui
registrado como filho de Massapê em 1921, com o nome de Pitombeiras, eu até
gostei, fazia sentido né?!
Quando
fui registrado já era molecote, estava bem crescidinho não dava mais trabalho a
ninguém... aqui já tinha, açude, armazém, comércios de várias coisas e muitos
moradores, eu tava um pixotinho mesmo!
Tudo
caminhava na paz e na tranquilidade do jeito que eu gostava, há tempo bom! As
vezes sinto tanta saudade chega cho...choro..............................
desculpe gente não contive as emoções..
Pois
bem, já estava bem acostumado com meu nome. Já era até famoso, já havia saído
em diversas páginas de jornais neste Ceará afora, era ilustre, kkkkk. Eu era um adjetivo no nome dos ricos do
local, ‘fulano de tal, das pitombeiras’, ‘João de tal, das pitombeiras’ ‘Pedro
tal, das Pitombeiras’, confesso que gostava disso me sentia gente grande, importante.
Ah! Que tempo.
Mas,
tudo que é bom dura pouco. Em 1938 mudaram meu nome, até hoje nem sei porque, motivo
não tinha, sei lá... mudaram minha certidão de nascimento, deram-me o nome de
Senador Sá, coisa de meu pai só pode! não pude contestar... Porém de uma coisa
eu gostei, ninguém me chamava desse nomerréi feio, só me chamavam de
Pitombeiras, e eu nem dizia nada achava era bom. Em meus documentos era Senador
Sá, mas eu só me identificava como sendo Pitombeiras, ora mais, podia achar
ruim tava nem aí.
Há!
É tão bom ser criança, porém, todos nós um dia crescemos né mesmo, e eu cresci,
cresci ao ponto de tornar-me um adulto e assumir minhas próprias coisas, tornei-me
responsável pelos meus atos e pelo rumo da minha vida. De início é bom, muito
bom. Toda criança quer ser adulta, porém depois que se torna, quer ser criança
de novo e fugir das responsabilidades, comigo não foi diferente. Em 23 de
agosto de 1957 não pode fugir a minha sina e tornei-me senhor das minhas
escolhas e responsável pelos meus atos. Era um adulto. Fui emancipado.
A
partir de então eu tinha de me virar sozinho, como é ruim ser ‘de maior!’ Pensei
muitas vezes, mas isso não vem ao caso... Meu nome permaneceu o mesmo da minha
segunda certidão, meu RG é 23081957.
Os
dias que se seguiram não foram muitos bons, quase entro em depressão, se é que
não entrei, nem sei direito. O fato é que muita coisa mudou para mim, fiquei
feliz, depois me arrependi, enfim, um turbilhão de sentimentos me atormentaram
por vários anos. Uma das primeiras coisas que mais me doeu, foi não poder
esconder mais meu nome de registro, tinha de assumir a cara limpa, ‘meu nome é
Senador Sá’, kkkkk dar até vontade de rir quanto lembro! Mas, isso já superei, agora
acho é bom ouvir alguém falar (rsrsr). Hoje, 23 de agosto de 2017, estou
fazendo 60 anos, estou ficando velho, pelo menos me sinto, apesar de ser apenas
um adolescente ainda?!
Mas
cá pra nós, falando sério, sempre que aniversario fico melancólico, pensando na
minha vida, no tempo perdido, no que deveria ter feito, no que fiz de errado,
enfim, viajo no tempo passado, tentando entender onde errei e onde devo melhorar,
todo ano faço isso. Meus pensamentos me confundem muito. Fico horas matutando
no que precisa ser melhorado, no que me falta e no que me sobra. Chego à
conclusão que sou um jovem desorganizado, com pouca visão de futuro, que tem
gastado suas economias com coisas supérfluas e postiças, sou um jovem
contemporâneo sem disciplina. Mas também reconheço meu potencial, sei que sou
bom, sei disso...verdade, eu sou o cara! (rssrs)
Brincadeira
à parte. O que nos guias são os sentimentos e os meus são confusos, ora me dizem
uma coisa, ora me dizem outra e nisso fico fazendo, desfazendo, iniciando e reiniciando
no intuito de atendê-los e não concluo nada, eu me considero um mero
empreendedor de ideias. Mas deixemos minha vida de mão né mesmo?! Já falei
demais. Gente queria agradecer a todos pelas felicitações pela ocasião de meu
niver, que Deus nos abençoes e nos guie. Amem!
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