terça-feira, 5 de junho de 2018

EM GUERRA INTERNA, PCC AVANÇA SOBRE PAÍSES VIZINHOS


FRONTEIRAS | Facção expande negócios fora do Brasil, mas estaria com autoridade do chefe Marcola em crise. Execuções de brasileiro barão do tráfico no Paraguai, em 2016, e dos líderes Gegê e Paca no Ceará, este ano, evidenciam conflitos da maior organização criminosa do País

São quase 17 mil km de vizinhança do Brasil com dez países. Nos territórios de fronteira, as facções brasileiras compram briga ou fazem morada. Expandem seus ‘negócios’ na base da força. O Primeiro Comando da Capital (PCC) tomou o trono de Jorge Rafaat Toumani.   
Até dois anos atrás, o brasileiro, de 56 anos, era o todo-poderoso da região entre Pedro Juan Caballero (Amambay/Paraguai) e Ponta Porã (Mato Grosso do Sul), um dos principais pontos da entrada de cocaína para o território brasileiro.  
Paraguai de um lado, Brasil do outro, separados por ruas. Rafaat era o grande ordenador das remessas de drogas e armas a partir daquele ponto da fronteira para as facções brasileiras. A opção para matá-lo foi pouco discreta: usaram uma metralhadora calibre Ponto 50, que abate até helicóptero. O jipe de Rafaat, um Hammer blindado, ficou bem avariado. 
Dois chefes do PCC, Gegê do Mangue (Rogério Jeremias de Simone) e Paca (Fabiano Alves de Souza), estavam estabelecendo morada entre o Ceará e Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Também circulavam pelo Paraguai e Colômbia. Eram, até então, os principais nomes da cúpula da organização criminosa fora dos presídios. 
Estavam silenciosos perto dos mares cearenses. Compraram uma bela casa num condomínio de luxo em Aquiraz, andavam em carrões entre a Beira Mar e o Beach Park, tinham uma casa de veraneio em Beberibe, litoral leste (a 85 km da Capital). Trouxeram a família. Não eram só férias. Foram executados em fevereiro último, logo após o   Carnaval, na Região Metropolitana de Fortaleza.
As mortes de Rafaat, Gegê e Paca evidenciam elos indissociáveis entre o crime brasileiro e as zonas fronteiriças. Rafaat era “O Barão”, “O Padrinho”, também o chamavam de “Saddam”. Vivia na terra vizinha, livre e temido, mesmo condenado no Brasil a 47 anos de cadeia – o caso envolvia um carregamento de cocaína de quase uma tonelada. Barão supria de drogas PCC e Comando Vermelho   simultaneamente. 
Gegê e Paca costuravam negócios do PCC na Bolívia. Articulavam a compra de cocaína e armas e a distribuição pelo Brasil. A facção é a brasileira mais bem montada em solo estrangeiro. Já teria passado ao nível de cartel. Havia suspeitas de que, da fronteira, poderiam montar algum modo de controlar o PCC a partir de Fortaleza. A tese não foi provada. Teriam desviado dinheiro do grupo para comprar as mansões e os carros e se desgarrarem financeiramente. Foram considerados traidores. Morreram executados por colegas de facção dentro de uma aldeia indígena em Aquiraz.
(Fernando Ribeiro, O Povo Online)

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